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2012 - Livro Vermelho 2013

Worsleya rayneri (Hook.f.) Traub & Moldenke EN

Informações da avaliação de risco de extinção


Data: 05-04-2012

Criterio: B1ab(iii,iv,v)+2ab(iii,iv,v)

Avaliador: Maria Marta V. de Moraes

Revisor: Tainan Messina

Analista(s) de Dados: CNCFlora

Analista(s) SIG:

Especialista(s):


Justificativa

A espécie é endêmica do Brasil, ocorrendo exclusivamenteno Estado do Rio de Janeiro, na parte central da Serra dos Órgãos. Tem EOOde 283,45 km²; AOO de 36 km² e está sujeita a menos de 5 situações de ameaça, nos Campos de Altitude associadosao domínio fitogeográfico Mata Atlântica. W. rayneri éconsiderada um paleoendemismo das formações campestres de altitude, e umadas mais primitivas Amaryllidaceae americanas. Planta herbácea, rupícola ousaxícola, forma ilhas de vegetação sobre a rocha exposta ao sol, acima de 1000 mde altitude. Estimativas indicam a existência de 21 subpopulações de W. rayneri e uma redução populacional de cerca de 25% a cada cinco anos, atribuída principalmente a incêndios em sua área deocorrência. A maioria dos incêndios na região se inicia devido à implementaçãode práticas inadequadas de manejo do solo. Em 2007, um único incêndio atingiuquatro subpopulações de W. rayneri, o querepresenta cerca de 19% de todos os remanescentes da espécie. Aproximadamente70% das subpopulações naturais de W. rayneri estão sujeitas a algumprocesso de invasão biológica. A invasão por capim-gordura (Melinisminutiufolia) é uma ameaça significativa para esta espécie. Há indícios de pisoteio e evidências de que a espécieé palatável para herbívoros e de que o miolo do caule de W. rayneri é consumido por uma espécie de lagarta e por cabritos nas épocas mais secas. Conhecidapor "rabo-de-galo" ou "imperatriz do Brasil", é muito utilizada como plantaornamental, uma vez que apresenta aparência inusitada diante dasoutras Amaryllidaceae e flores vistosas. É também considerada rara e, portanto, muito apreciada por colecionadores. Foram conduzidas ao longo dos últimos anosduas tentativas de cultivo da espécie no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, semsucesso. A planta é cultivada ilegalmente em sítios, fazendas e casas no alto da serra. No exterior, a espécie é cultivada e amplamentecomercializada. O alto custo associado ao cultivo desta espécie tem influência diretana retirada de espécimes da natureza. Pesquisas realizadas com a espécie desde 1984 ampliaram de maneira significativa oconhecimento sobre a biologia e a ecologia deste táxon, entretanto,algumas lacunas ainda permanecem, principalmente a respeito dos aspectosreprodutivos, uma vez que até hoje se desconhece o polinizador desta planta. Aespécie tem amostras de material depositadas em banco de DNA e possui Planode Recuperação desenvolvido com base na melhor informação disponível (Moraes, 2009),porém, este não foi efetivamente colocado em curso. Apesar de ocorrermajoritariamente em Áreas de Proteção Permanente (APP) e dentro doslimites da Área de Proteção Ambiental da Região Serrana de Petrópolis (APA Petrópolis)e na Reserva Biológica Estadual de Araras (ReBio Araras), essasunidades não garantem a proteção da totalidade das subpopulações conhecidas deW. rayneri.

Taxonomia atual

Atenção: as informações de taxonomia atuais podem ser diferentes das da data da avaliação.

Nome válido: Worsleya procera (Lem.) Traub;

Família: Amaryllidaceae

Sinônimos:

  • > Worsleya raineri ;
  • > Amaryllis rayneri ;
  • > Hippeastrum procerum ;
  • > Worsleya rayneri ;

Mapa de ocorrência

- Ver metodologia

Informações sobre a espécie


Notas Taxonômicas

Conhecida popularmente como "imperatriz do Brasil" ou "rabo-de-galo", a espécie passou por diversas classificações taxonômicas, até ser finalmente estabelecida como gênero monotípico (Moraes, 2009). Merrow et al. (1999) em análises cladísticas para 48 gêneros de Amaryllidaceae, encontrou dificuldades em posicionar W. rayneri no clado americano da família, uma vez que suas características peculiares, como grande quantidade de mucilagem, bulbos aéreos, número de espatas igual a quatro, e ausência de paraperigônio sugeriam uma linhagem evolutiva independente dentro de Amaryllidaceae (Traub; Moldenke, 1949; Martinelli, 1984). Por esses motivos, W. rayneri é considerada um paleoendemismo das formações campestres de altitude do Estado do Rio de Janeiro, sendo considerada uma das mais primitivas Amaryllidaceae americanas, encontrando paralelo somente em espécies do gênero Griffinia (G. hyacinthina), com a qual compartilha maiores afinidades morfológicas (Strydom, 2005; Dutilh, 2005). O nome válido atualmente é Worsleya procera, entretanto, esta nomenclatura ainda não foi adotada pela Lista de Espécies da Flora do Brasil (Dutilh; Oliveira, 2012). Dutilh (com. pess.) argumenta que o W. procera seria um nome ilegítimo, e portanto o nome correto a ser utilizado de acordo com o atual Código Internacional de Nomenclatura Botânica seria W. gigantea, apesar de ainda não ter publicado seu posicionamento.

Potêncial valor econômico

A espécie, assim como muitas outras representantes das Amaryllidaceae, apresentam potencial valor econômico no mercado horticultor, sendo muito valorizada como planta ornamental por colecionadores (Merrow et al., 2002; Dutilh, 2005).

Dados populacionais

Estimativas indicam que as 21 subpopulações de W. rayneri possuam cerca de 119.940 indivíduos, sendo a maior destas (Pedra do Boi Coroado) detentora de cerca de 17.560 indivíduos (Moraes, 2009). Moraes (2009) estima redução populacional de W. rayneri em cerca de 25% a cada 5 anos, atribuída principalmente a incêndios intensivos em sua área de ocorrência. W. rayneri apresenta maior variabilidade genética dentro das populações, quando comparada com populações isoladas em diferentes montanhas (Moraes, 2009). Além disso, os dados de Moraes (em prep.) indicam que as populações isoladas estão divergindo. A espécie apresenta tempo de geração estimado entre cinco e 10 anos (Moraes, com. pess.; Dutilh, com. pess.).

Distribuição

A espécie é endêmica do Brasil, ocorrendo exclusivamente no Estado do Rio de Janeiro (Dutilh; Oliveira, 2010). Representa um endemismo restrito a uma região específica na parte central da Serra dos Órgãos, Petrópolis, RJ (Martinelli, 1984; Moraes, 2009). Foi registrada a partir de 1000 m de altitude (Moraes, 2009). A Área de Ocupação (AOO)=18 Km² foi estimada com base no método adotado pelo CNCFlora (2012), e 6 Km² foi estimada com base no método adotado por Moraes et al. (submetido).

Ecologia

Planta herbácea, rupícola ou saxícola. Forma ilhas de vegetação sobre a rocha exposta ao sol, em ambiente xerofítico, juntamente com espécies das famílias Velloziaceae, Cyperaceae, Gentianaceae, Bromeliaceae, Poaceae, entre outras (Martinelli, 1984). Ocorre na testa de afloramentos rochosos situados sobre os Campos de Altitude (Martinelli, 1984; Moraes, 2009) associados ao domínio fitogeográfico Mata Atlântica (Martinelli, 1984; Moraes, 2009; Dutilh; Oliveira, 2012). O período de floração varia de Janeiro a Março, com pico em Fevereiro. Indivíduos em frutificação foram registrados entre Abril e Outubro (Moraes, 2009). W. rayneri aparentemente apresenta boa capacidade de regeneração, uma vez que apresenta grande quantidade de mucilagem e bulbo alongado, que auxiliam em sua perpetuação durante a incidência de incêndios ou durante períodos mais secos. Seu habito clonal também representa uma importante característica que influi em sua capacidade de recuperação, já que através do brotamento, novos indivíduos são gerados e rapidamente restabelecem o tamanho populacional após a incidência de algum fator que leve ao declínio populacional local (Moraes, 2009).Martinelli (1984) e Moraes (2009) não identificaram a presença de polinizadores para W. rayneri. Apesar de poucos estudos extensivos terem sido realizados neste sentido por estes autores, Moraes (2009) levanta a hipótese de que o polinizador destas plantas possa estar extinto. Entretanto, o mesmo autor indica a necessidade de estudos conclusivos para se afirmar com certeza este fato.

Ameaças

1.5 Invasive alien species (directly impacting habitat)
Detalhes Aproximadamente 70% das populações naturais de W. rayneri estão sujeitas a algum processo de invasão biológica. A invasão por capim-gordura (Melinis minutiufolia) é uma ameaça significativa para esta espécie (Martinelli, 1984; Moraes, 2009). Alguns locais de ocorrência atingiram níveis de infestação alarmantes, com implicações para a sobrevivência deste táxon na natureza.

1.7 Fire
Detalhes A maioria dos incêndios na região se inicia devido a implementação de práticas de manejo inadequadas do solo. Proprietários locais utilizam-se do fogo para a limpeza de terrenos para a plantação de culturas, para o estabelecimento de pastagem ou para abertura de terrenos destinados a construção de condomínios. Em 2007, um único incêndio atingiu quatro populações de W. rayneri, o que representa c. de 19% de todos os remanescentes da espécie (Moraes, 2009).

1.1.4 Livestock
Detalhes ​Não existem evidências conclusivas de que as áreas de ocorrência sejam utilizadas para pastagem extensiva de animais. Entretanto, indícios de pisoteio e evidências de que a espécie é palatável para herbívoros (formigas) foram encontradas (Moraes, 2009). Martinelli (com. pess.) relata que o miolo do caule de W. rayneri é comido por cabritos nas épocas mais secas, e por uma espécie de lagarta. Moraes (2009) afirma que a presença de cavalos e cabritos parece ter grande impacto sobre a estrutura das ilhas de vegetação sobre rocha, afetando indiretamente a sobrevivência local da espécie.

1.3.4 Non-woody vegetation collection
Detalhes A espécie é muito utilizada como planta ornamental, uma vez que apresenta aparência inusitada diante das outras Amaryllidaceae e vistosas flores. Aliada a isso, a espécie é endêmica restrita de uma pequena área da região serrana do município de Petrópolis, RJ, sendo considerada rara e portanto, muito apreciada por colecionadores. Foram conduzidas ao longo dos últimos anos duas tentativas de cultivo da espécie no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, sem sucesso. Entretanto, a planta é cultivada em sítios, fazendas e casas no alto da serra, apesar de ser contra lei. No exterior, a espécie a espécie é cultivada e amplamente comercializada. O alto custo associado ao cultivo desta espécie (uma vez que os específicos requerimentos ecológicos devem ser simulados em laboratório para possibilitarem seu desenvolvimento) influencia diretamente na retirada de espécimes na natureza (Moraes, 2009; com. pess.).

1.4.2 Human settlement
Detalhes O desenvolvimento urbano da região de ocorrência de W. rayneri e a implementação/ expansão de empreendimentos rurais/ residenciais configuram séria ameaça a perpetuação da espécie na natureza. A destruição da chamada Buffering Zone, que atua como cinturão protetor dos Inselbergs e Campos de Altitude onde W. rayneri ocorre, vulnerabiliza ainda mais esta flora relictual (Martinellil, 2007; Moraes, 2009). Apesar de não existirem estudos que comprovem o efeito positivo desta zonas-tampão, o papel da Floresta Atlântica na manutenção das condições microclimáticas das encostas rochosas está bem documentado na literatura. Essas áreas atuam ainda como barreira física para vetores que possam representar ameaças para as espécies destas comunidades vegetais sobre a rocha (Moraes, 2009).

Ações de conservação

1.2.1.2 National level
Situação: on going
Observações: A espécie consta no Anexo I da Instrução Normativa nº 6 d 23 de setembro de 2008 (MMA, 2008), sendo considerada oficialmente "Ameaçada de extinção".Foi considerada "Criticamente em perigo" (CR) em avaliação de risco de extinção empreendida pela Fundação Biodiversitas (Biodiversitas, 2005).

3.2 Population numbers and range
Situação: on going
Observações: Moraes (2009) em amplo estudo sobre o estado de conservação desta espécie, desenvolveu mapas de distribuição potencial e, com base neles, ampliou para 21 populações, aumentando de maneira significativa o que até então se conhecia sobre a espécie. Além disso, Moraes (2009) aumentou a área de distribuição da espécie, com base nas descobertas de novas subpopulações.

3.3 Biology and Ecology
Situação: needed
Observações: Após os trabalhos de Martinelli (1984), Oliveira; Pereira (1986) e Moraes (2009), o conhecimento sobre a biologia e a ecologia deste táxon foi ampliado de maneira significativa. Entretanto, algumas lacunas ainda existem, principalmente a respeito dos aspectos reprodutivos, uma vez que até hoje se desconhece o polinizador desta planta.

3.5 Threats
Situação: on going
Observações: As principais ameaças existentes para W. rayneri foram mapeadas por Moraes (2009), e modelos de quantificação foram elaborados, porém estão em fases de teste (Moraes, em prep.).

3.8 Conservation measures
Situação: needed
Observações: A espécie possui Plano de Recuperação desenvolvido com base nas melhores informações conhecidas (Moraes, 2009), porém este não foi efetivamente colocado em curso.

4.4 Protected areas
Situação: needed
Observações: Apesar de ocorrer majoritariamente em Áreas de Proteção Permanente (APP's) e dentro dos limites da Área de Proteção Ambiental da Região Serrana de Petrópolis (APA Petrópolis) e Reserva Biológica Estadual de Araras (ReBio Araras), essas unidades não garantem a proteção a totalidade das subpopulações conhecidas de W. rayneri. Do modo como sua diversidade genética está distribuída, é necessário que todas as subpopulações se encontrem devidamente livres da incidências de ameaças (Moraes, 2009).

5.7.1 Captive breeding/Artificial propagation
Situação: needed
Observações: Apesar das dificuldades encontradas para reproduzir e propagar W. rayneri em cultivos, com investimentos em estufas climatizadas e técnicas modernas de reprodução in vitro será possível cultivar estas plantas em coleções científicas EX SITU (Moraes, 2009).

5.7.2 Genome resource bank
Situação: on going
Observações: A espécie possui ampla amostragem de materiais depositadas em banco de DNA (Moraes, 2009).

Usos

Referências

- MARTINELLI, G. Nota sobre Worsleya rayneri (J.D. Hooker) Traub. & Moldenke, espécie ameaçada de extinção. Rodriguésia, v. 36, n. 58, p. 65-72, 1984.

- MIGUEL D'ÁVILA DE MORAES. Conservação e Manejo de Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) - uma espécie de campos de altitude ameaçada de extinção. Dissertação de Mestrado. : , 2009.

- MERROW, A.W. ET AL. Systematics ?of? Amaryllidaceae ?based? on ?cladistic ?analysis? of ?plastid? sequence? data. American Journal of Borany, v. 86, p. 1325?1345, 1999.

- TRAUB, H.; MOLDENKE, H.N. Amaryllidaceae:? Tribe?Amarylleae. The? American? Plant ?Life? Society, 1949.

- DUTILH, J.H.A. Ornamental bulbous plants of Brazil. Acta Hort, v. 683, 2005.

- STRYDON, A. Phylogenetic relationships in the famílly Amaryllidaceae. : Faculty of Natural and Agricultural Sciences, 2005.

- MARTINELLI, G. Mountain Biodiversity in Brazil. Revista Brasileira de Botânica, v. 30, n. 4, p. 587-597, 2007.

- MEEROW, A.W. ET AL. Phylogenetic Relationships and Biogeography within the Eurasian Clade of Amaryllidaceae Based on Plastid ndhF and nrDNA ITS Sequences: Lineage Sorting in a Reticulate Area?, Systematic Botany, v.31, p.42-60, 2006.

- BARTHLOTT, W. ET AL. Phytogeography and vegetation of tropical inselbergs. , 1993.

- TURNER, R.L. Encountering the Empress Habitat mapping for an endangered plant in Brazil, SourDough Notes, 2007.

- DUTILH, J.H.A.; OLIVEIRA, R.S. Amaryllidaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Disponivel em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2012/FB015454>.

- FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS. Revisão da lista da flora brasileira ameaçada de extinção. Belo Horizonte, MG: FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, 2005.

- Base de Dados do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora). Disponivel em: <http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/>. Acesso em: 2012.

- MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Instrução Normativa n. 6, de 23 de setembro de 2008. Espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção e com deficiência de dados, Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 24 set. 2008. Seção 1, p.75-83, 2008.

- MERROW, A.W.; PREUSS, K.D.; TOMBOLATO, F.C. Griffinia (Amaryllidaceae), a Critically Endangered brazilian geophyte with horticultural potential. Acta Hoticultural, v. 570, 2002.

- MORAES, M. Comunicação do especialista Miguel de Moraes, coordenador do Centro Nacional de Conservação da Flora - CNCFlora/ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico Rio de Janeiro- JBRJ, Rio de Janeiro (RJ), para o analista Eduardo Fernandez, pesquisador do CNCFl, 2012.

- DUTILH, J.H.A. Comunicação da especialista Julie H. A. Dutilh, do Departamento de Botânica da Universidade Estadual de Campinas, para o analista Eduardo Fernandez, pesquisador do CNCFlora, São Paulo, SP, 2012.

Como citar

CNCFlora. Worsleya rayneri in Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2 Centro Nacional de Conservação da Flora. Disponível em <http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/pt-br/profile/Worsleya rayneri>. Acesso em .


Última edição por CNCFlora em 05/04/2012 - 18:16:55